sexta-feira, 8 de setembro de 2017

[Tradução] Letras completas do Native Invader


Native Invader é um disco de teor político e polarizado, uma vez que explora conflitos de diversas ordens e busca a solução no elemento mais puro e visceral: a Natureza, materializada na figura da Grande Mãe e da Pátria. Se num primeiro momento a expressão "Invasora Nativa" pode suscitar um teor pejorativo, ao explicá-la (vídeo) Tori enfatiza sua ambiguidade, no sentido de que essa Invasora pode ser portadora da mudança tão esperada pela humanidade.
Nesta publicação, você encontrará todas as letras do novo disco traduzidas, algumas com notas explicativas para expressões ou referências. O material foi produzido pelo blog e revisado por Ailton Palaria, da página Bibliophagia, e claro, quaisquer sugestões são bem vindas. Por fim, se deseja ler as letras originais, é só acessar a página do disco no Yessaid, que por sinal foi de onde obtivemos o material para este esforço (Thank you!).


REINDEER KING (REI RENA)

Cerne de cristal
Sua mente foi apartada de sua alma
Agora você diz ser esse estrangeiro* em sua costa

A aflição causa carência
Congelamento nu,
Apanhado na geada
Pensamentos insuportáveis e torpes
Sua chama guardiã** interior
Não está perdida
De modo algum
Não está perdida

Acabei de voltar do Rei Rena
Diz ele, “sua pureza de alma, cristalina”
Tem que se trazer, trazer-se de volta a si mesmo
Você, de volta a si mesmo
Você tem que se trazer de volta si mesmo
Trazer-se de volta a si mesmo

Cerne de cristal
Você está no ponto morto d’um mundo em rotação
A divisão
Temendo a morte, ansiando a vida

Gelo, você foi o mais gentil com os rios
Você, o topo das ondas
Camada sob camada, sob camada

Acabei de voltar do Rei Rena
Diz ele, “sua pureza de alma, cristalina”
Tem que se trazer, trazer-se de volta a si mesmo
Você, de volta a si mesmo
Você tem que se trazer de volta si mesmo
Trazer-se de volta a si mesmo

E sabe que eu esquiaria
Esquiaria até o fim do mundo
Para segurar sua mão
Para livrar-lhe da dor
Você sabe que esquiaria
Da Escandinávia
Até as luas
De Júpiter com você

Você
Tem que se trazer, trazer-se de volta a si mesmo
Você, de volta a si mesmo
Você tem que se trazer de volta si mesmo
Trazer-se de volta a si mesmo

Acabei de voltar do Rei Rena


* O revisor da tradução apontou que “Stranger on your shore” pode ser uma referência ao livro de Albert Camus, “O Estrangeiro”. Veja que as capas de diversas edições deste livro apresentam de fato um homem pela costa.
** “Need-fire” trata-se de uma chama purificadora acesa pela fricção de madeira ou pedras, tradicionalmente usada para afastar maus espíritos de rebanhos (Fonte).


WINGS (ASAS)

Você está sofrendo
Ocultando sua dor
Segurando lágrimas não derramadas
Você diz: “São só águas passadas”

É tarde demais
Para fazer de mim
Um lugar seguro?
Não pude perceber
Os perigos
Os sacrifícios
Que você estava fazendo

Magoei você
Magoei a mim
Magoei você

Nunca quis lhe magoar
Me magoar
Eu preciso
Fazer de mim
Um lugar seguro
Para você
Chorar, querido
Pois às vezes
Garotos crescidos precisam chorar

Então construímos asas
Para lhe ajudar a escapar
De seu exigente
Anjo Negro
E de mim

É tarde demais
Para fazer de mim
Um lugar seguro?
Fui muito dura
Quando, voando
Nos aproximamos
Demais
Da nossa estrela

Magoou você
Me magoou
Magoou você

Nunca quis lhe magoar
Me magoar
Eu preciso
Fazer de mim
Um lugar seguro
Para você
Chorar, querido
Pois às vezes
Garotos crescidos precisam chorar


BROKEN ARROW (FLECHA PARTIDA)*

Esta flecha partida inspira cuidado
Quando grandes patronos brancos —
Sua cortesã é a desigualdade

Os precipitados e imprudentes
Não nos levarão
Aonde queremos chegar
Somos nós emancipadores ou opressores
Da Dama Liberdade?

Será que a perdemos?

Esta flecha partida inspira cuidado
Quando grandes patronos brancos —
Nossos envenenados rios alimentam sua cobiça

Os precipitados e imprudentes
Não nos levarão
Aonde queremos chegar
Songlines** ancestrais cantam para despertar
A Dama Liberdade

Pode ela parecer frágil
E nós estarmos cansados da luta
Ainda assim, essas songlines cantarão
Dos Grandes Lagos
Às nossas Terras Áridas
Passando pelas doces pradarias

Não, não deixarei para trás
Não serei silenciada ou interrompida
Por aqueles que nos devem explicações
Em nosso Senado
E na Casa também

Nós, o povo***
— Prezados juízes —
Estaremos de olho
Em vocês

Será que a perdemos?

Esta flecha partida inspira cuidado


* Na terminologia militar norteamericana, "Broken Arrow" refere-se a qualquer acidente que envolva armas nucleares, fora de um contexto de guerra. Associa-se ainda ao risco de contaminação radioativa (Fonte - dica de Erik Williams).
** Songlines correspondem a melodias e letras cantadas por povos tradicionais, em especial aborígenes australianos, representando aspectos da criação da natureza e seres vivos por entidades divinas. Por descreverem paisagens naturais, se cantadas em certa sequência as “linhas de canção” formavam verdadeiros mapas sobre a terra, os quais garantiam que viajantes não se perdessem mesmo navegando por longas distâncias (Fonte).
*** “We the People” é como começa o texto da Constituição dos Estados Unidos. Tori também já usou a expressão no encarte do American Doll Posse, quando foi escrita em suas costas para o ensaio (ver foto).


CLOUD RIDERS (CAVALEIROS DAS NUVENS)

De pé na beira do precipício
Nunca pensei que seria assim
Uma calmaria mortal antes da tempestade
Nenhum som de seus motores
(Do outro lado)
Vi uma estrela cadente às 4:22 da manhã

Um disparo em aviso dos demônios do ritmo
Ou dos pregadores de guitarra
Fui tocada por ambos,
E pelo Espírito Santo
(Do outro lado)
Vi uma estrela cadente às 4:22 da manhã

Debaixo de todas essas estrelas,
Eu disse, “Não, pare!
Não vou desistir de nós”
E não estou indo a lugar algum
Annie*, pegue seu baixo elétrico
Ajude-me a invocar a Lua de Outubro
Você então brada, “Corra por abrigo!”
Eu grito, “Acelere a Triumph**!”
Você diz, “baby, já é tarde demais
Dos Cavaleiros das Nuvens não há escapatória”
Querido, para que esse cobertor?
Saindo desta tempestade —
Nós iremos sair desta tempestade

Entalhei um sigilo invertidoª
Às nove portas para descobrir
Os segredos das Árvores
Certa vez já as ouvi cantando
(Do outro lado)
No passado, os Deuses do Trovão
Costumavam lançar ao vento nossa sorte
Mas então perdi contato
Perto de quando a carruagem dela
(Do outro lado)
Uma carruagem levada por gatos
Ronronando, “nós retornaremos”
Do outro lado
“Garota, já é tempo de pegar sua vida de volta”


* "Annie" deve ser uma referência dupla: a poeta norteamericana Annie Finch, escritora de um poema chamado October Moon (veja o verso seguinte); e Annie Clark, melhor conhecida como St. Vincent, já que a artista é conhecida pelo uso de guitarras e inclusive teve seu nome listado nos agradecimentos do disco. Agradecemos Marco Vieira pela indicação.
** "Triumph" é uma marca de motocicletas (Fonte), que assim como a expressão Cloud Riders já havia sido citada na canção Invisible Boy. Dado pessoal: ao que parece o marido de Tori é aficionado por esses veículos.
ª "Stave against the grain", traduzido como "sigilo invertido", trata-se de uma referência à magia medieval europeia. Pode referir-se também à cosmologia nórdica, o que vem a calhar com outras imagens da canção: a carruagem levada por gatos é uma alusão a Freyia, e as nove portas podem representar os nove mundos da Yggdrasil, grande árvore que os conecta. Obrigado, Netto Sousa, pelas informações.


UP THE CREEK (CORREDEIRA ACIMA*)

Se o vento estiver a nosso favor**
Se o vento estiver a nosso favor
Temos chance de sobreviver
Caso a Milícia da Mente
Arme-se contra os daltônicos do clima***

Irmã do Deserto
(Venho invadir)
Irmã do Deserto
(Para lhe evadir)

Entendimento incutido nos ossos de Gaia
Entendimento incutido nos ossos de Gaia
Cânion de granito, redes de rocha
Sua alma imaculada
Não será possuída ou apropriada

Acabada
Quando a esperança estiver quase acabada
Você sabe, é hora de nos mantermos
Firmes —
Cada garota em cada banda
Cada caubói cósmico desta nação
À Terra, você demonstrará compaixão?

Se o vento estiver a nosso favor
Temos chance de sobreviver
Caso a Milícia da Mente
Arme-se contra os daltônicos do clima

Irmã do Deserto
(Venho invadir)
Irmã do Deserto
(Para lhe evadir)

Se o vento estiver a nosso favor


* A expressão "Up The Creek (Without a Paddle)" é usada para indicar que se está numa posição difícil. Para incorporar o elemento natural, já que a palavra "Creek" significa "Afluente", decidiu-se por traduzir como postado. Outro ponto interessante é que Creek denomina uma nação de indígenas norteamericanos, da qual falamos na nota seguinte.
** "Good Lord willin' and the Creek Don't Rise" é um ditado cotidiano (muito usado pelo avô de Tori, como a própria explica) que foi aqui traduzido em seu sentido comum. A expressão no entanto tem origem histórica: o agente norteamericano ligado aos povos indígenas do sudeste, Benjamin Hawkins, recebeu uma carta do então presidente Thomas Jefferson, solicitando que voltasse imediatamente a Washington DC para discutir a situação daqueles povos. Episódios violentos haviam ocorrido entre os posseiros brancos (Crackers) e os Creek, que ocupavam a área. O governo federal pressionava a Confederação Creek a ceder parte de suas terras, para evitar novos conflitos com os posseiros que tentavam invadi-las. Hawkins o respondeu dizendo: "Good Lord willing and the Creek don't rise (se for a vontade de Deus e os Creek não insurgirem)", querendo dizer que voltaria a Washington caso os Creek deixassem (fonte: People Of One Fire ~ Indicado por Karl Lund, do grupo Tori Amos & Fans). Um fato curioso é que recentemente nos EUA a tribo Standing Rock Sioux passou por situação parecida, uma vez que o governo queria construir um oleoduto nas terras deste povo.
*** Decidimos traduzir "Climate Blind" como “Daltônicos do Clima”, e não “Cegos do Clima”, pois desconfiamos que Tori fez um trocadilho com o termo “Colorblind", usado para designar daltônicos em inglês.


BREAKAWAY (GRANDE FUGA)

Não, eu não espero
Que você me perdoe isto
Aliar-se a soldados que dizem
Sermos incapazes de ganhar o dia

Um teatro bélico, a moldura
Conflitos internos reinam agora
A intenção deles: dividir
Até não haver mais lados a tomar

Você sente-se traído
Eu me sinto enganada
Por nossos supostos amigos —
Não aqueles que deveríamos ter feito

E quando a história termina
E o palco escurece
Ambos podemos ouvir
O que estava escrito na parede
Imploro então ao bardo
Que escreva outra cena
Pois foi você
Quem me levou a acreditar
Haver algo a mais
Que eu preciso dizer
Deveria tê-lo dito, porém
Antes de ontem
Antes de sua grande fuga

Esta selva é escura
Mas repleta de diamantes
Que podem ferir e escravizar
Apenas com um sopro de sangue

“Fé em Espadas”* conosco
Então quais eram as chances
De que nossa mão de Copas perdesse
Para o flush de Paus deles?

Você foi traído
E eu enganada
Ao menos me fizeram sair
Pelo helicóptero** no palco

E quando a história termina
E o palco escurece
Ambos podemos ouvir
O que estava escrito na parede
Imploro então ao bardo
Que escreva outra cena
Pois foi ele
Quem me levou a acreditar
Não haver mais nada
Que eu precise dizer
Deveria tê-lo dito, porém
Antes de ontem
Antes de sua grande fuga


* A expressão “Faith in Spades” significa “Fé em abundância”; no entanto preferiu-se traduzir com está no texto por ser, na língua inglesa, uma expressão nascida do jogo de Pôquer (Fonte). É possível ler na mesma estrofe o nome de outros naipes do baralho (Copas, Paus), e a metáfora aqui deve referir-se a contendas serem resolvidas num jogo de azar, em que certa combinação de cartas acaba sendo mais forte que outra (a mão, o flush).
** Essa aqui é uma referência ao espetáculo musical Miss Saigon, em que numa das cenas um helicóptero aparece no palco. Diz-se que The Light Princess, musical escrito por Tori, foi rejeitado na Broadway para dar lugar àquele, então a situação deve estar sendo aludida em Breakaway.


WILDWOOD (MATA VIRGEM)

Mata virgem
Papoulas
Mata virgem
Toque-me

Por trás do rodamoinho de Bétulas,
Garotos do bongô em sua invocação —
O som agora semeia
Nos dedos da brisa oriental,
Onde esperam despertos
Pelo ascensão dela do perigoso fosso
Disse ela: “a única forma de mudarmos
Nosso destino é fazer chover”

Mata virgem
Papoulas
Mata virgem
Toque-me

Passados Amieiros e Carvalhos,
Atravessando o bosque de Salgueiros
Serpenteia a dádiva da Hera
A qual lhe ensinou ser impossível escapar da angústia
Mas que há formas de viver com ela
Então novidades trazidas por piscos
Formam em você uma radiância interior
Como se eles unissem-se a um espírito, velho conhecido seu
E que está voltando, mais uma vez

Mata virgem
Papoulas
Mata virgem
Toque-me

Além do trajeto do peregrino,
Com o talismã que colocou em minhas mãos
E sua mágica trazida do inverno passado
É o que lidera o caminho

Após três longos meses
Suportando sua ausência
Sobre trilhas draconianas acompanhamos a corrente
Um labirinto,
Com pequenos brotos de milho verde
Agora em abundância

Enquanto a floresta celebra,
Diz ela: “faça chover
Mata Virgem
Papoulas
Mata virgem
Toque-me,
Toque-me outra vez”

Nota: em entrevista à Consequence of Sound, Tori afirmou que Wildwood é inspirada na mitologia grega, em específico no retorno sazonal de Perséfone do Mundo Inferior (Fonte).




CHOCOLATE SONG (A CANÇÃO DO CHOCOLATE)

Não tenho que gostar do que você diz, às vezes
Também não gosto das coisas que digo
E agora, vogais (votos) e consoantes são nosso armamento
Fizemos votos de amor eterno

E escuto sua dor gritando
Escuto sua dor
Nas noites caladas
Nós éramos felizes
Costumávamos celebrar
No fogão
Às sós

Chocolate delicioso e acetinado
Eu não lhe odeio, não lhe odeio
(Chocolate delicioso e acetinado)
Não, preciso ser mais como você
Na tensão de nossos opostos
Permitir de algum modo que a doçura dure
Sem trair nosso amargor
Eu não lhe odeio, não lhe odeio
(Chocolate delicioso e acetinado)

Não tenho que gostar de viver entre extremos
Os altos tão altos, os baixos tão baixos
Primeiro lançando facas, depois preparando sobremesa
Nossa corda bamba balançando

Então escuto sua dor gritando para mim
Escuto sua dor gritando
Costumávamos ser,
Costumávamos celebrar
Costumávamos preparar
Chocolate delicioso, acetinado e feliz

Eu não lhe odeio, não lhe odeio
(Chocolate delicioso e acetinado)
Não, preciso ser mais como você
Na tensão de nossos opostos
Permitir de algum modo que a doçura dure
Sem trair nosso amargor
Eu não lhe odeio, não lhe odeio
(Chocolate delicioso e acetinado)

Escuto sua dor gritando
Costumávamos celebrar
No caldeirão em nosso fogão,
Um bom fogo, água doce
Costumávamos celebrar
Costumávamos celebrar


BANG

Bang!
Disparou a língua ferina deles
Crucificação da Palavra
Voltada aos imigrantes expulsos
Imigrantes — é o que todos nós somos
Por sermos feitos de estrelas
Você os disse
Sim, você disse

Bang!
Estourou o universo
Hidrogênio desejando a fusão do Hélio
Uma poderosa dança solar da morte
Supernova explodindo

O fim de uma história semeia o início de outra

Então os céus abriram-se
E eu ouvi vozes
Unidas em Hosanas
Ofegante, vi sua estrela

Tão brilhante que me cegou
Tive de proteger meus olhos

Foi quando você pegou minha mão
Sim, você a pegou

Bang!
O mundo hoje traumatizado
Por um grupo de humanos hostis,
Aliados a seus senhores de guerra do ódio
Devemos portanto criar a partir deles
Com A Espinha Dorsal da Noite*
Para re-humanizar

Então os céus abriram-se
E eu ouvi vozes
Unidas em Hosanas
A torre de confusão deles
Não pôde afogar a luz
De sua estrela

Tão brilhante que me cegou
Tive de proteger meus olhos

Foi quando você iluminou o caminho
Sim, você o iluminou

“Não podem eles ver”,
Você me disse
“Que todos nós somos
Máquinas moleculares?”
Metas e sonhos
Tudo o que quero é ser
A melhor máquina que eu puder

Oxigênio e Carbono
Partes de nossa máquina molecular
Metas e sonhos
Tudo o que quero é ser
A melhor máquina que eu puder

Hidrogênio
Cálcio
Fósforo
Potássio
Enxofre
Sódio

Tudo o que quero é ser
A melhor máquina que eu puder

Cloro
Magnésio
Boro
Cromo
Cobalto
Cobre
Flúor

Tudo o que quero é ser
A melhor máquina que eu puder

Iodo
Ferro
Manganês
Molibdênio
Selênio
Silício
Estanho
Vanádio
Zinco

Tudo o que quero ser —
Uma máquina molecular


* Esta nota foi traduzida de um ótimo comentário feito no facebook. Créditos a Louis van der Walt. “A Espinha Dorsal da Noite (The Backbone of Night)” é o título de um capítulo do livro “Cosmos” (1980), de Carl Sagan (que junto a Frank Zappa foi citado como forte inspiração à música). Sagan tinha orgulho de defender que nós todos somos feitos de matéria estelar. Os elementos mais pesados necessários para uma química rica, capaz de sustentar a vida, só podem ser produzidos no interior quente de estrelas. Quando elas morrem, explodindo numa supernova, esses elementos espalham-se por todo universo, podendo assim serem usados para a evolução da vida no planeta. Com isso, o verso “O fim de uma história semeia o início de outra” é uma verdade literal, não apenas uma bela metáfora.


CLIMB (ESCALADA)

“Escale o muro da igreja”, disse ele
“Você pode dar de comer às carpas* no tanque”
“Escale o muro da igreja, em seu vestido de domingo
Certifique-se de dar de comer às carpas no tanque”
É uma longa, longa escalada, voltando no tempo

Todo meu ser quer acreditar que os anjos me encontrarão, Santa Verônica**
Todo meu ser quer acreditar que de algum modo você me salvará, Santa Verônica

Ele disse, “ajoelhe-se diante de seus juízes em reverência,
Sua penitência pela mulher que será um dia.
Você sabia que se falasse qualquer coisa haveria uma consequência,
Sua sentença pela mulher que será um dia”
10 dias de inferno na cela de Satã

Todo meu ser quer acreditar que os anjos me encontrarão, Santa Verônica
Todo meu ser quer acreditar que de algum modo você me salvará, Santa Verônica

Sonhe com outras dimensões, cruze então o véu até alcançá-las
Cubra-se de linho, com Jesus bem próximo,
Clamando por Santa Verônica

"Desce do ventre da besta***”, disse ela
"Torna-te uma testemunha liberta do abismo.
O templo da alma terá de curar a carne.
Tão pronto tu fores inteira poderás perdoar,
Mas é uma longa, longa escalada"

É uma longa, longa escalada


* A carpa (koi) é muito significativa para a cultura chinesa e o feng shui, representando lições e mesmo provações pelas quais as pessoas tem de passar na vida. Isso se deve ao fato desse peixe nadar contra a corrente e subindo o rio durante seu ciclo de vida, conferindo-a simbolicamente traços de coragem, ambição e perseverança, entre outros (Fonte). Achamos interessante evidenciar essa analogia, uma vez que Climb parece tratar exatamente dessa noção de superar-se.
** Santa Verônica é, de acordo com a mitologia cristã, uma piedosa mulher que tirou seu véu para limpar o rosto do Cristo, durante seu calvário (Fonte).
*** “In the belly of the beast” é uma expressão que significa “situação extremamente difícil”, mas foi traduzida literalmente pela temática religiosa da música (Fonte).


BATS (MORCEGOS)

Se você ver três velas na janela,
Estive lhe aguardando, Ondina* do Mar
Os Entes Queridos** estão aqui comigo
Ondina do Mar
Continue respirando, garota

Recebi a visita de um morcego
Que parou por um tempo de ensinar
Na Faculdade de William e Mary
Você pediu a opinião dele
Sobre o acordo fechado entre
As antigas damas do mar e a humanidade

Alertando: “A coisa mais preciosa
Pela qual lutaremos para salvar:
O destino de nossas ondas
Arrebentando no cetim azul dela”

Se você ver três velas na janela,
Estive lhe aguardando, Ondina do Mar
Os Entes Queridos estão aqui comigo
Ondina do Mar
Continue respirando, garota

Você disse que os morcegos são sábios
E certa vez profetizaram
Qual seria o fim… Se traídas
Pela raça humana

Sim, cobertas de névoa irmãs surgirão
Dos brejos e pântanos, silenciosamente
Tudo pelo amor de nossa mais querida amiga
E dá-se o início

Se você ver três velas na janela,
Estive lhe aguardando, Ondina do Mar
Os Entes Queridos estão aqui comigo
Ondina do Mar
Continue respirando, garota


* "Ondinas" são criaturas elementais da água associadas a cultos pagãos, representadas em diversas culturas como sereias, nereides e ninfas (Fonte).
** Os “Kindly Ones (Entes Queridos)” devem ser uma referência à coleção homônima de revistas da série Sandman, de Neil Gaiman (Fonte).


BENJAMIN

Benjamin,
Prodígio da ciência,
Meu amigo morcego de computador*
Diga-me onde
Diga-me quando
Eu lhe encontrarei, ninja Ben

Por trás da loja de discos
Com gravações que, você garante,
Provam o tamanho da maldade deles

Enquanto se livram de nossos cientistas,
Meu morcego de computador caça os fatos

Campanhas financiadas
Pela indústria de combustíveis fósseis
Quantos de nós seremos dominados
Para que obtenham seu controle global?

Extraindo hidrocarbonetos do chão
Esses cafetões em Washington
estão negociando o estupro da América,
Enquanto atacam Juliana**

Agora não há como evitar
A Necessidade ressuscita a si mesma
E a suas filhas
Que nunca serão compradas
Nem por deuses,
Nem pelos homens na colina
O fio da vida —
Julgado breve —
Retorça
E recorte

Benjamin
Prodígio da ciência
Meu amigo morcego de computador
Diga-me onde
Diga-me quando
Eu lhe encontrarei, ninja Ben
Diga-me onde
Diga-me quando
Estou em seu exército, Ben


* A imagem do "morcego de computador" soa incomum, por essa não ser uma expressão de uso corrente. No entanto, uma possibilidade é que o BAT seja referência a uma sigla típica de tecnologia, que corresponde a "Best Available Techniques/Technology (Melhor Técnica/Tecnologia Disponível)". Ainda, foi apontado num grupo de fãs no facebook que no ano passado, criou-se um bot de inteligência artificial capaz de produzir sozinho roteiros para filmes. O curioso é que esse bot se auto-nomeou Benjamin (Fonte). Vale salientar, por fim, que segundo a própria Tori, esta canção relaciona-se à anterior, portanto o Bat deve referir-se também ao animal.
** “Juliana” é uma ação judicial movida por 21 adolescentes norteamericanos, exigindo que o presidente norteamericano Donald Trump tome decisões cientificamente embasadas sobre as mudanças climáticas. Para conhecer mais sobre, leia aqui.


MARY’S EYES (OLHOS DE MARIA*)

O que se esconde nos Olhos de Maria?
Olhos de Maria
Olhos de Maria

Doula da Morte
Pode trazê-la de volta à vida?
Doula da Morte
Pode trazê-la de volta à vida?

Irmã Desespero**
Irmã Desespero
Pode trazer o Rei do Sonho para mim?
Irmã Desespero
Esconda suas lágrimas perto de Maria
Temos de levá-la ao
Júbilo do Mundo
Júbilo do Mundo***

Hinos para cantarmos
Ela tem fé
Hinos trancados em sua memória
Eu tenho fé que sejam a chave

O que se esconde nos olhos de Maria?
Padrões importam
Sequências amarradas em conjunto importam
Para resgatar
Resgatá-la até nós

Doula da Morte
Pode trazê-la de volta à vida?

Irmã Desespero
Irmã Desespero
Ela não deve ver você chorando
Esconda suas lágrimas
Vamos trazê-la somente Deleite?

Hinos para cantarmos
Ela tem fé
Hinos trancados em sua memória
Eu tenho fé que sejam a chave

O que se esconde nos Olhos de Maria?
O que se esconde nos Olhos de Maria?
Olhos de Maria
Olhos de Maria

Maria


* Esta música reflete sobre a saúde de dona Mary Ellen, mãe de Tori que após um AVC perdeu a capacidade de falar. Ela só consegue se comunicar pelos olhos e por meio de melodias e hinos que acompanha balbuciando, quando tocados no ambiente (Fonte). Ainda que o mais adequado seja manter a grafia do nome em inglês, senti que traduzir para “Maria” favoreceria o sentido poético da letra.
** Os citados “Desespero” e “Deleite” (que vem a se tornar "Delírio") são Perpétuos, personagens da série Sandman de Neil Gaiman (Fonte). O “Rei do Sonho” também deve ser uma referência de mesma origem.
*** “Joy to the World” é um hino cristão natalino, que em português chama-se “Vinde, Cantai”.


UPSIDE DOWN 2 (DE CABEÇA PARA BAIXO 2)

Veja os barcos partindo
E a vida de outro alguém
Aqueles rostos sorridentes,
Nós já os tivemos antes
Veja os barcos partindo
Não, essa não é nossa vida
Não hoje
Não hoje
Certas coisas funcionam assim

Não ficarei com raiva
Ultimamente tudo parece
Estar desmoronando
À nossa volta
Nós temos que virar essa testa franzida
Temos que virar essa testa franzida
De cabeça para baixo*

Aqueles rostos sorridentes,
Nós já os tivemos antes
Veja os barcos partindo
Não, essa não é nossa vida
Não hoje
Não hoje
Certas coisas funcionam assim

Não ficarei com raiva
Ultimamente tudo parece
Estar desmoronando
À nossa volta
Nós temos que virar essa testa franzida
Temos que virar essa testa franzida
De cabeça para baixo
De cabeça para baixo


* “To turn that frown upside down” significa assumir uma atitude positiva depois de um momento ruim (Fonte). Por conta do título da música, preferiu-se preservar a imagem da letra.


RUSSIA (RÚSSIA)

— áudio de emissoras numéricas russas —

Os que estão à Direita
Precisam construir uma ponte
Os que estão à Esquerda
Têm de construir uma ponte
Os que estão em Washington
Respondam somente uma pergunta:
Stálin está em seu ombro?
Stálin em seu ombro,
Como esteve com os compositores dele

Hora de acordar
Ativar nossa Invasora Nativa
Guerreiros da Terra,
Já está ficando tarde
Hora de encarar
Aqueles que tomam
Mais e mais
de nossa Grande Mãe
A Mãe que chamamos de lar

Stálin está em seu ombro?


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