segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Flavors: The Beekeeper

The Beekeeper foi, digamos assim, o primeiro álbum polêmico de Tori. Sua duração e a irregularidade das faixas fizeram com que alguns fãs repudiassem boa parte do disco; outros, no entanto, gostaram bastante do resultado, criando portanto uma relação de afeto sincero com as músicas. E um deles foi Lucas Tolotti (facebook), que acabou dando sua contribuição para a série Flavors tratando exatamente dele. Seu texto é dotado de suavidade e flui como um passeio pela praia; sua suavidade, porém, mascara certas dificuldades que todos enfrentamos na vida, e o passeio, mesmo sendo regozijante, é recheado de pensamentos e reflexões, uma certa introspecção. No fim das contas, Lucas representou muito bem o que é The Beekeeper.
Enjoy it!





"She is risen
She is risen
Boys
I said she is risen"



Em algum lugar de 2007, eu, com apenas 15 anos, escutei Tori Amos pela primeira vez. E comecei pelo último álbum dela na época, “The Beekeeper”. Não vou entrar, de maneira alguma, no mérito da qualidade do álbum, por muitos questionada. O fato é que este disco pode ser usado como uma metáfora para a ruptura de paradigmas e a construção de outros, que foram acontecendo ao longo desses cinco anos que se passaram.

Com 15 anos, eu era apenas um adolescente que não sabia quase nada da vida e vivia de forma pacata em uma cidade do interior, sem contato com muitas pessoas e limitado a reproduzir com culpa consciente ensinamentos, crenças e tradições familiares.

Foi então que recebi uma espécie de chamado. E este veio com a música. Precisamente, com a primeira música de Tori Amos que ouvi: “Parasol”, faixa que abre “The Beekeeper”. Já estava hipnotizado com as primeiras notas... E então, quando a escutei cantar “when I come to terms, to terms with this”, o primeiro e primário pensamento que me veio a cabeça foi: “que voz!”. Sim, eu havia sido domado.

Com a distância temporal que me separa do meu eu adolescente, e de certa forma é como se eu estivesse dialogando com ele agora, eu percebo como essa música se encaixa na minha vida de diferentes formas. Principalmente, neste exato momento que escrevo este texto. “I stare at the wall knowing on the other side, the storm that waits for me”. Sim, minha vida está prestes a mudar, pra pior ou pra melhor, e eu sei disso. Sei da tempestade que me aguarda, e possuo aquele impulso de querer me manter seguro na minha moldura, mesmo sabendo que, não importa o que eu faça, meu mundo irá mudar para mim. Engraçado como a primeira música de Tori que ouvi é a que mais me define nesse momento.

Ainda conversando com o Lucas de cinco anos atrás, percebo como temas das músicas deste álbum se mantiveram vivos na minha história. Eu, uma pessoa insegura por natureza, fui levado a acreditar que “the sexiest thing is trust”. Nos meus momentos de decepção amorosa, me questionava se alguém poderia me dizer quem é esse terrorista. Mais uma vez percebo o tanto que esse álbum é presente. No término do meu último relacionamento, foi inevitável não lembrar das seguintes linhas:


“So how, how will I go
Back on, back on the shelf
With a smile, with a smile
To the customer and say
‘On sale by the owner’?”



Entretanto, minha história com o The Beekeeper vai além de trechos de músicas usados em minha experiência pessoal. Ele, como um todo, pode ser encarado como a representação do que é a maturidade, do que é encarar a vida pelo seu prisma de cores em diferentes matizes, de se pegar perplexo com os paradoxos e incoerências que encontramos ao longo do caminho. Ao mesmo tempo que canta sobre sua filha, a ‘revolução’ de se tornar uma mãe, viagens, etc., há, durante todo o álbum, a presença da insegurança, confronto, religião, decepção, perda, morte. Temas estes presentes em trabalhos anteriores, mas que são vistos por uma ótica diferente, por uma nova Tori.

Nesse álbum há uma Amos madura, mãe, se referindo à natureza, e encaro essa natureza de duas formas. A física, representada pelas abelhas, borboletas e jardins, e também a psicológica, pessoal, dela, minha, de você que lê esse texto, enfim, de todos nós. Por exemplo, The Beekeeper e Toast lidam, respectivamente, com o medo da perda e com a conformação da perda. Original Sinsuality, com sua letra repleta de gnosticismo, me fez ampliar a percepção do que é religião, assim como Marys of the Sea. Apenas exemplos de como a arte abre nossa cabeça.

E com certeza este álbum se mostrará de uma forma diferente pra mim daqui a 5 anos, e pelos outros que se seguirão, comprovando, mais uma vez, a relação entre maturidade e seu significado que o disco possui. Aliás, qualidade essa que Tori possui. Seus álbuns se comunicam conosco de maneira diferente à medida que o tempo vai passando. E isso é mágico.

Conforme disse no começo do texto, recebi um chamado da música. Um chamado de Tori. E, encerrando com Parasol, mais uma vez, “I haven’t moved since the call came”. É hipnótico.

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Lucas Tolotti: 20 anos, do interior de São Paulo. Estudante de Direito frustrado. Futuro vestibulando de publicidade. Respira música. Aquariano com ascendente em peixes, ou seja, muito muito sensível. Acredita na ingenuidade das pessoas e possui ideais românticos. Estupidez? Talvez. 




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