sexta-feira, 26 de março de 2010

Tradução: The BKP - Song canvas (Piece by Piece) & The BKP Edição Especial [PARTE 2]


Marys Of The Sea

Marys Of The Sea – foi escrita sobre a jornada de Maria Madalena fugindo de Jerusalém, em direção ao Sul da França, criando sozinha um ministério. Foi muito influenciada pelo Evangelho de Maria Madalena.
O canvas de Marys Of The Sea, no Piece by Piece, discorre basicamente sobre a fuga de Maria Madalena para a Gália, e Tori acaba se usando desse cenário para falar sobre os conhecimentos obtidos por ela através do estudo dos evangelhos gnósticos.

“Há um refrão aqui, claramente. Engraçado, mas essa música foi inspirada por um conto folclórico que estava lendo outro dia, o conto de Mélusine. Comecei a pouco a escrever as letras dos versos e refrão. A música que me assombrava enquanto desenvolvia o verso é um riff de piano que encontrei numa gravação de menos de um minuto – ou não... Não sei – numa fita que ouvia na esteira. Não concluí nenhuma melodia final para ir com este verso. Tenho cerca de 17 que canto no chuveiro, e nenhuma delas conseguiu ganhar de Ms. World como a melodia de Marys Of The Sea. De qualquer forma, sou assombrada por este riff, sabendo que ele deverá unir-se frouxamente ao refrão. O riff de piano do verso é um motivo musical que circula em torno de si, conjurando a figura de um anel, uma imagem que acaba funcionando em nossa história.
Enquanto estava pesquisando sobre o assunto descobri que os primeiros cristãos faziam a dança do anel próximo da época de Jesus antes do Concílio que produziu o Credo de Nicéia (325 d.C.) e de Constantinopla ter se tornado cristã (381 d.C.). Isso me compeliu a buscar por informação em todos os lugares possíveis. Encontrei um conto folclórico baseado no poder do Mito do Anel, o que me levou a perseguir o mito do Senhor do Anel (o mesmo que inspirou Tolkien a escrever “O senhor dos anéis”). Historicamente, há uma cultura do senhor do anel, ecoando desde tempos sumérios e ‘scythianos’ antigos. Na antiga Suméria, região mesopotâmica, os Deuses e Deusas Anunnaki, a aproximadamente 4000 a.C., implementaram o anel como parte da política municipal. Quis encontrar uma seqüência de fatos históricos que se originassem com Tiamat, a Rainha Dragão, e encontrei uma.
A história de Mélusine, cujo conto (e realmente cauda) nos diz dela carregando três anéis. Esta narrativa termina no território da França dos dias atuais. Ela vem de uma tradição que ecoa do Sagrado Feminino. A história parece ser datada em 733 d.C., o que nos mostra que a dança do Anel conseguiu se sustentar por milhares de anos. Parece ter ocorrido na antiga Suméria, se originando possivelmente na ‘Scythia’, chegando à região do Mar Negro sobre as Montanhas Carpatianas, região conhecida hoje como Bálcãs.
A filosofia por trás da cultura do anel pareceu se espalhar da Scythia à Mesopotâmia, Egito e Europa, neste caso chegando ao território conhecido como Irlanda e Grã-Bretanha. Nestes locais, o anel representa eternidade, totalidade e unidade. Muitas Deusas foram caracterizadas durante a história antiga com os símbolos do anel e da ordem, a ordem representando uma lei universal justa e o anel simbolizando soberania. Alguns historiadores pensam ser possível Jesus ter dançado o anel, e que ele tomou parte na dança como numa velha cerimônia sagrada. São Agostinho de Hippo, de acordo com textos antigos, escreveu sobre uma dança do anel relacionada a Jesus e seus apóstolos. Isto pode significar que a Madalena provavelmente dançou o anel também, trazendo assim a sabedoria dos anéis para seu círculo íntimo.
Enquanto me apego a diversas possibilidades para desvendar o código desta canção, retrato todas as idéias numa tela. Haverá várias telas para Marys of the sea – Les Saintes Maries de la Mer. Pela Madalena ter ido em 44 d.C. à França e ter morrido no local denominado hoje de Saint Baume, em 63 d.C., em Aix-en-Provence, ela é lembrada como a Dama das Águas. Escolhi incorporar a expressão em Francês por esta ter existido exatamente assim por centenas e centenas de anos, da forma como a história foi passada e chega até nós, hoje. Estou tentando trazer diferentes perspectivas ao mito da Madalena, em Marys of the sea. Naturalmente, a canção a inclui como parte do Hiero gamos, o casamento sagrado, mas também, como um assunto subjacente, inclui-se a atitude sexista para com as mulheres assumida pelo discípulo Pedro e o apóstolo Paulo, os pais da teologia da Igreja Católica Ortodoxa. Este sentimento sexista surgiu em homens saudosos à tradição cristã ortodoxa antiga, um deles sendo o Bispo Irineu (que poderia ser a imagem especular de minha avó religiosa, se você ignorar a diferença sexual entre eles). O bispo não era fã do que chamamos de Evangelho gnóstico, assim como um outro homem religioso chamado Tertuliano. Tirado do livro “The Gnostic gospels”, de Elaine Pagels: “Tertuliano dirigiu outro ataque contra ‘aquela víbora’ – uma professora que liderava uma congregação no Norte da África. Ele mesmo concordava com o que chamou de ‘Preceitos da disciplina eclesiástica considerando as mulheres’, que especificava: ‘Não é permitido a uma mulher falar numa igreja, nem lhe é permitido ensinar, batizar, oferecer (a eucaristia), ou clamar para si a participação em qualquer função masculina – sem mencionar os atributos de um padre’”.
Marys Of The Sea foi também inspirada pelo evangelho de Maria Madalena, traduzido do Copto com comentários por Jean-Yves Leloup. Este evangelho lança bastante luz sobre as relações internas dos discípulos. A inveja nutrida por Pedro em relação à Madalena é óbvia, quando, neste evangelho, ela está repassando o que Jesus (o Mestre) tinha lhe ensinado em particular. Quando ela concluiu, depois de André (irmão de Pedro) expressar que não tinha acreditado que o Mestre ditou essas idéias, “... Pedro falou também, ‘Como é possível que o Mestre falou dessa maneira, com uma mulher, sobre segredos dos quais nós mesmos somos ignorantes? Devemos mudar nossos hábitos, e ouvir esta mulher? Ele de fato a escolheu, a preferiu em relação a nós?’”.
Depois da explicação de Leloup acerca dessa passagem, o que expandiu minha visão sobre ela, o evangelho continua: “Então Maria lamentou, e o respondeu, ‘Meu irmão Pedro, o que pode você estar pensando? Você acha que isto é apenas minha imaginação, que eu inventei essa visão? Ou você acredita que eu mentiria sobre nosso Mestre?’”. Naquele momento, ficou claro como cristal que esta é uma mulher a quem não era permitido vencer. Ela não pôde vencer na história, e foi relegada à sua posição de prostituta. Ela não pôde vencer com seus contemporâneos, a maioria dos quais eram discípulos, por estarem cheios de inveja sobre a intimidade dela com Yeshua ou Jesus (o Mestre).
Escolhi também salientar a intimidade entre Jesus e Maria Madalena em Marys of the sea. Fui parcialmente levada a isso por causa de uma passagem do evangelho de Filipe (59:9), a qual cito daqui pela introdução de Leloup para o livro The Gospel of Mary Magdalene: “Considerando a natureza única e particular da relação de Jesus e Maria Madalena, o evangelho de Filipe insiste, por exemplo, que Maria era uma companhia especial para Jesus (koinokos)... ”O senhor amava Maria mais do que todos os discípulos, e freqüentemente a beijava na boca. Quando os outros viam como Jesus amava Maria, eles diziam ‘Por que você a ama mais que nós?’. O salvador respondeu dessa forma ‘Como seria possível que eu não ame vocês da mesma forma que a amo?’”.
Também mencionadas nesta canção são as Mulheres escarlates, as mulheres sagradas – As Hierodulau. Madonna Negra foi um título atribuído à Madalena por muitos. Vindo de Bloodline of the Holy Grail, por Laurence Gardner:
A Madonna Negra tem sua tradição na Rainha Ísis e suas raízes na pré-patriarcal Lilith (a primeira mulher de Adão). Ela então representa a força e a igualdade para o feminino – Uma figura de comando, orgulhosa e imediata, contrária à imagem estritamente subordinada da convencional Madonna Branca, como vista nas representações da Igreja da Mãe de Jesus. Era dito que tanto Ísis e Lilith sabiam o nome secreto de Deus (um segredo guardado também por Maria Madalena, ‘a mulher que tudo sabia’). A Madonna Negra é representativa então da Madalena, que de acordo com a doutrina Alexandrina, ‘transmitia o verdadeiro segredo de Jesus’. De fato, o culto já antigo à Madalena era fortemente associado com localidades da Madonna Negra. Ela é negra porque a Sabedoria (Sophia) é negra, existindo na escuridão do Caos antes da criação. Para os ensinamentos gnósticos de Simon Zelotes, a Sabedoria é o Espírito Santo – a grande e imortal Sophia que deu origem ao primeiro Pai, Yaldaboath, vindo das profundezas.
Centenas de anos depois da histórica Les Saintes Maries de la mer ocorrer, aparentemente porque a Madalena viajou também com duas outras Marias, descobrimos a Mélusine histórica que trouxe seus anéis à França, vinda das terras píctias da Caledônia (No extremo Norte da Bretanha, área incorporada posteriormente no que conhecemos hoje como a Escócia). No fim, Mélusine provavelmente terminará evoluindo numa canção totalmente distinta (NP: Vide Dolphin song), e Marys of the sea permanecerá com sua identidade preservada. Uma separação amistosa de fato ocorrerá – tal qual uma divisão celular – criando uma linhagem de mesma origem sanguínea.” (Song canvas, Piece by Piece)


Garlands

“‘Washington Square’ ou ‘Garlands’ (ainda estou indecisa quanto ao título da canção: quando for lançada você saberá qual eu escolhi) foi escrita quando estávamos congelados – algo como nos dias em que é perigoso demais dirigir em estradas com gelo, aqui no oeste da Inglaterra. Comecei esta canção no outono, quando estávamos em Boston fazendo um grande show de rádio em Outubro, 2003, e então não pude encontrar as suas fundações até que estivéssemos cobertos de neve, na Cornualha. Me empacotei na grande e sempre disponível jaqueta de meu marido, e fui dar uma volta com minhas botas. Quando voltei, não fui para casa. Fui ao celeiro, sentindo o cheiro do fogo pelo caminho, fazendo o percurso de uma abelha até o Böse. Isabella estava lá, à minha espera, num feixe de luz sobre o piano, e ela disse, “Escreva-me numa canção. Quero acessar esta dimensão”. Respondi, “Converse um pouco comigo”. Comecei a tocar algo aleatoriamente para não perder o momento, e ela disse, “Você ainda está sofrendo”. Eu a perguntei, “Você está falando do quê?”. “Eu estava lá, naquele dia”. Perguntei, “Que dia?”. “Aquele quando você andou pela Praça de Washington e pude ver uma lágrima que você escondeu; eu levantei uma vela para lhe guiar”. Olhei para esta gloriosa visão de luz, e dei um leve sorriso. “Bem, Isabella, então sabemos em que canção você está, não?”. Ela me abraçou por um momento e então, dançando, voltou ao feixe de luz do qual ela tinha vindo. Terminei Washington Square (ou Garlands) naquele dia.
A palavra ‘garlands’ (“guirlandas”) casou-se com a melodia desde seu início; sabia que ela queria ser utilizada, mas ela fugiu de mim por meses, principalmente porque eu a associava com o costume antigo de grinaldas e flores para casamentos, funerais e celebrações tão ancestrais quanto o Beltane e o Dia de Maio. Então, naquele dia, depois de Isabella lançar a faísca sobre mim... Acho que você pode dizer que é meu sexto sentido – Ela aumentou o volume dele – Comecei a perceber que a minha definição de guirlandas era a razão para que eu não pudesse costurar esta palavra à tapeçaria da canção. Sentei neste velho divã que supostamente veio da Rússia do Séc. XIX... Tive de recuperá-lo pelo menos três vezes por causa de manchas de café e baba de bebê, mas este é meu canto de reflexão, e é meu divã de golfinho por causa das duas réplicas de cetáceos existentes de cada lado. É feito de um material que me remete à sálvia, o que, por sua vez, me faz lembrar do New Mexico, aquela planície coberta com sálvia branca bem ao lado das Montanhas Sangre de Cristo. Olhei para a cor da parede, que pintei para me recordar dos céus daquele lugar, uma cor cremosa de tangerina, ou como diria Tash, cor de pudim Satsuma de baunilha.
Tive vontade de pegar um livro que tivesse desenhos nele. Naquela semana, havia acabado de abrir uma caixa com livros de arte que obtive em minhas viagens. Alguns estavam ainda em seus plásticos, sobre o chão. Um deles prendeu meus olhos, e lá estava. Litogravuras de Chagall. Estas guirlandas de litogravuras – feixes explodindo em cores – são o que os amantes da história usaram para narrar sua história de amor. Nossos amantes encontram-se na Praça de Washington, e seguem em direção à cidade alta para ver uma exibição de Chagall. Enquanto adentravam e saíam destas imagens, temos uma perspectiva do amor que tem, um pelo outro, algumas das crenças com as quais eles lutam, e uma força obscura no relacionamento deles que parece ficar entre os dois. Esta força obscura pode ser o pai dele, ou o professor de arte dela que parece querer controlar os caminhos que seu talento deve seguir; possessivo um pouco demais, na opinião de Isabella...” (Song canvas, Piece by Piece)


Jamaica Inn

A canção trata de um naufrágio sofrido pela personagem encarnada por Tori. Há referências diretas a livros de Daphne du Maurier, a começar pelo título da própria música.

“Por esses dias, tenho me ocupado com a idéia de uma chama contida. A idéia de um farol. Quando ouvia falar um pouco sobre as histórias da Cornualha, fiquei fascinada com aquelas sobre causadores de naufrágio. Estes causadores não provocavam destruição acidentalmente. Ao segurarem uma luz davam aos navios a falsa impressão de que era seguro aportar lá. O livro de Maurier entra em detalhes sobre este hábito cornuês. Aparentemente, até vigários segurariam uma luz falsa, para que, quando algum navio estivesse naufragado, eles pudessem sustentar uma vila com os bens contrabandeados chegados pela água. Enquanto dirigia pela costa de Bude a Podstow, me senti conectada a idéia moderna de um ‘naufrágio do lar’. Em meu carro, comecei a cantar o refrão de Jamaica Inn, depois de vislumbrar um pequeno bote enfrentando a ventania, no qual eu estava. Teria escrito essa canção no sul da Califórnia? Provavelmente não. Afinal de contas, eu estava na terra do livro de Maurier, um lugar real, como em ‘Rebecca’, outro de seus livros que se passou na Cornualha. Faço referências aos dois livros em Jamaica Inn por Ambos serem ancestrais à canção. E até hoje, não sei se minha personagem sobreviveu ao naufrágio no qual ela estava...”. (Song canvas, Piece by Piece)

Cars And Guitars

Tori parece brincar com peças de carros e trocadilhos para construir a narrativa de uma mulher que, de repente, vê a si mesma numa encruzilhada emocional. Essa mulher começa a pensar se não deveria apenas “continuar dirigindo”, deixando para trás sua vida, num ímpeto destruidor-transformador. O canvas desta canção no Piece by Piece aborda a situação:

“Numa manhã, há algum tempo atrás, estava dirigindo no centro da Cornualha, e um cenário surgiu em minha cabeça. Uma mulher que continuou dirigindo. Ela levanta pela manhã, tem de ir ao trabalho, deixar os filhos prontos para a escola, lidar com o marido e seus parentes... As necessidades de todo mundo. Ela acaba completamente depreciada, e hormonal – só Deus sabe o que estaria acontecendo naquele dia. Então, diz, “Não consigo fazer isso nunca mais” (Soa familiar?), e continua dirigindo. Ela não pega o filho na escola – faz uma ligação e pede, “Preciso que você o pegue, cuide dele até eu voltar para casa”. Então, talvez ela tenha caminhado para fora de sua vida. Não necessariamente se mata, apenas decide, “Eu não consigo fazer isso nunca mais”. Essa história provavelmente ocorre todos os dias. Não sou eu – eu não continuei dirigindo. Mas quis explorar esse aspecto. Acho difícil para um público aceitar que um artista amado por eles, um dos “good guys”, pode explorar um arquétipo como esse – nesta história, é Kali, a Deusa da destruição, que fez seu papel – e isto pode ser assustador.
Certos arquétipos são assustadores por trazer à tona algumas de nossas qualidades que estavam enterradas bem lá no fundo. Às vezes, porém, essas qualidades transbordam e, nesse momento, Pele chega, podendo funcionar como uma professora que lhe ensina a se despedir de metade de sua personalidade, até ali.
Mesmo assim, posso lidar com isso”. (Song canvas, Piece by Piece)


Sleeps With Butterflies

“Estava pesquisando e listando palavras que me soavam bem e tinha alguma relação com a polinização. Há uma lista imensa de centenas de palavras... Então, para descansar um pouco minha mente, fui passear pelo campo que ficava atrás de casa, no jardim de vegetais e na estufa. Passei um tempo lá, decidindo com meu marido aonde plantar a lavanda – sempre que há algum sol na Inglaterra, não há como ter certeza de sua permanência... Então você deve até cozinhar nele, fazer o sacrifício, se necessário – para que as flores durem pelo dia todo. Sendo este um dia glorioso de sol na Inglaterra, no meio da primavera, fingi que estava cansada de tocar piano e fui flertar com o sol. Quando voltava do campo, pensando na escolha das flores, meu marido decidiu seguir para o jogo do Arsenal e eu fui à mesa de piquenique onde estava meu livro de jardinagem. Passei pelo estúdio com suas grandes portas de celeiro pintadas em madras, num tom de pêssego toscano, a qual eu tinha aberto diariamente enquanto praticava. Então... Bam! O refrão de SWB começou a sair das teclas e ela estava completa. Depois de semanas tentando traduzir minha idéia para um refrão, o verdadeiro parou em minha frente e disse, “T, meu bem, registre-me logo, pois quero ir lá fora flertar com o sol também”.
Ela surgiu como efeito do dia? Do clima? Certamente. Se estivesse num outro lugar, então algo tão simples como o canto de um pássaro mudaria as coisas”. (Song canvas, Piece by Piece)


General Joy

Como uma compositora e alguém que narra sua época, preciso ficar ciente do que é corrente. Decidi incluir General Joy no álbum porque a escrevi em Julho de 2004, e ela ainda hoje é relevante. Ainda estamos em guerra, o que mostra a atualidade desta canção. Uma situação meio contraditória é o nome dele, General Joy (“Alegria”), pois se pode dizer que não são muitos os generais que podemos chamar assim. General Joy perdeu seus garotos, e eles foram deixados para trás; ele precisa agora de uma soldada, visto que a liberdade foi amordaçada. (The Beekeeper Limited Edition Bonus DVD)

Mother Revolution

“Mother Revolution” é essência. Pelo álbum girar bastante em torno dessa idéia de dar condições para a continuidade de próximas gerações, as canções começam a falar sobre como será a vida se as massas não escolherem um caminho que respeite as necessidades da geração a seguir. Mães, então, teriam de fazer uma escolha: se elas estarão tranqüilas ou não em mandar seus filhos para uma guerra da qual elas desconfiam.
Comecei a compreender uma revolução interna, muito mais forte do que milhares de soldados; ela funciona como uma artilharia da alma, e se expressa numa resolução que observei em uma mãe preocupada. Os mestres têm nos falado sobre a complexidade das colméias que amam habitar os pomares, e eu me senti atraída a isso por causa da videira, do fruto e da transformação da vida. Tornar-me uma mãe me trouxe a minha maior professora. Ela tem quatro anos, e nós estamos em comunicação, em harmonia... Estamos envolvidas no equilíbrio entre mãe e filha, não sendo eu a autoridade ou ela a garota precoce mantendo tudo em controle (mesmo às vezes isto sendo verdadeiro...). Quando mantemos o equilíbrio, estamos partilhando desta dança, esta dança sônica que as canções tentam me mostrar desde minha mais tenra idade. Mas é ela, através dela... É a canção dela que está começando a me mostrar. E esse sentimento vive no “Pomar”, junto à Árvore do Conhecimento. (The Beekeeper Limited Edition Bonus DVD)


Ribbons Undone

“Ribbons Undone” é uma canção que explica o amor de uma mãe e de um pai por sua filha. Eles a vêem correndo pelo campo com suas fitas voando, e elas acabam parecendo com pequenos flashes de luz que se espalham, especialmente quando você está atrás dela. Você pode correr e correr para pegar borboletas, imaginando que pode voar como uma delas.
Observava Tash correr e comecei a me lembrar de algo que minha mãe havia me dito, anos atrás. Nós olhávamos para um espelho, e ela disse, “Esta mulher, que vejo você ver, esta mulher velha e enrugada, é uma estranha para mim”. Eu disse, “Você é a mais bela mulher que eu conheço”, e ela respondeu, “não se distraia pelo que estou lhe dizendo. Aquela é uma estranha para mim. Por dentro, estou correndo. Meus pés podem me carregar. Não tenho qualquer problema cardíaco. Não sou alguém que precisa de cadeira de rodas. Sou alguém que sai para pegar borboletas, nos olhos de minha mente”. Quando então vi minha filha correndo, vi também minha mãe. E comecei a perceber que esta é uma distração que, às vezes, nos enfeitiça, pois pode começar a nos fazer crer que somos velhos em espírito. Você pode começar a pensar que não é apenas a caixa do violino que está um pouco desgastada... Pode começar a pensar que o violino não tocará nunca mais. Neste ponto, você deve ir à Árvore do Conhecimento, e eu... Eu provei da sabedoria de minha mãe olhando no espelho. E hoje, eu a vejo correndo. Minha mãe sempre correrá, junto a Tash, de mãos dadas... Ribbons undone é um espaço no qual estou também correndo, com elas, lado a lado. (The Beekeeper Limited Edition Bonus DVD)


Um momento com Tash:
“Mãe, posso desenhar uma figura?”.
”Claro, queridinha”.
”Eu quero usar os seu lápis coloridos...”
”Está bem, deixe-me pegá-los pra você".
”Está certo, está certo, eu os pegarei!”.
”Vou dar um gole do meu chá verde, então”.
”Deixe que eu sirvo você, mãe”.
”Ok, queridinha, mas o bule é feito de porcelana, então ele pode quebrar se cair... Você pode usar ambas as mãos?”.
“Porcelana não quebra se ela cair sobre o sofá da sala de estar”.
”Bem, se cair na xícara podem ter uma colisão, desse modo quebrando ambos”.
”Olhe, essa garrafa d´água não é de porcelana. Isso é plástico, mãe. Observe-a cair”.
Então a garrafa d'água caiu rapidamente, e por sorte eu a havia fechado a tampa com força.
”Mãe, olhe! Estes lápis coloridos são flores e esta bandeira protege mamães e papais”.
Tash apanhou a bandeira britânica que tinha sido comprada para as festividades do futebol antes de, é claro, a Inglaterra ser eliminada nas quartas de final do Euro 2004. Ela começou girando o que ela chama de sua varinha e disse, “Eu sou a fada, mas não a fada alien (NP: alien = forasteiro/ alienígena). Sou boa para mamães e eu tenho estas flores, olhe. Mas as fadas alien gostam de preto, então vou dar a elas uma flor negra”.
Então Tash prossegue tirando um lápis de cor preta, que tinha conseguido dentro dos meus lápis de cor de arranjo floral.
”Mamães não precisam de flores negras”.
”Mamães não ligam para flores negras”.
”Não, mas as fadas alien precisam mesmo, mesmo, mesmo de flores negras porque é escuro”.
”O que é o escuro?”.
”De onde as fadas alien vem. Elas vem de onde existe brilho (NP: twinkle= brilho, fada “sininho” do Peter Pan) no céu”.
”Não, você era um brilho no céu”.
”Não, essa era Natashya. Eu sou a fada. Aqui, olhe. Cá esta seu microfone”.
Quando ela me fala isso, fico surpresa, porque quando ela não é Natashya gosta de ser a criatura que ela inventou, chamada ‘Alice Lily Horsey RIBBONS’, o qual se entrelaçou em “Ribbons undone”. Eu não usei essas palavras nesta ordem, mas as usei em uma alusão, principalmente pra capturar o espírito de Tash. Tash apanhou uma pequeníssima lanterna que Mark usa pra enxergar o equipamento na mesa de mixagem durante um show ao vivo. Começo a cantar uma canção boba e Tash diz - perdão, a fada diz, "Cante apropriadamente. O show está preste a começar”. Então rapidamente meu cérebro está tentando encontrar uma canção apropriada às 7:15 da manhã pré-jardim de infância. E uma das minhas novas canções para o álbum salta em minha cabeça, talvez por ter a palavra "porcelana" nela. Então continuei a cantar a canção apropriadamente, enquanto Tash preparava as luzes para a apresentação. Eu termino a canção e ela diz. "Quando eu era um brilho no céu, eu queria que você casasse com o meu pai. E eu lhe disse, não disse?”. “Acho que sim”. “E você me ouviu, não ouviu?”.
“Acho que sim".
“Você ia casar com um outro garoto, não ia?”.
“Não sei se ‘casar’ é correto, mas eu tive outros namorados, sim”.
”Mas seu último namorado não era meu pai, era?”.
”Não, você está certa. Meu último namorado foi o último namorado que tive, porque então eu estava com seu pai”.
”Mas eu não queria que o seu namorado fosse meu pai”.
”Bem, meu último namorado era muito bom”.
”Mas ele não era o meu pai! Eu te disse isso quando eu era um brilho no céu. E eu escolhi meu pai para você, pois eu te amo”.
Àquela conjuntura, o carteiro está na porta e o pai dela entrou do trabalho. O carteiro diz, “Você não precisa dessa bandeira, querida. Todo o time de futebol voltou pra casa, pois eles perderam”. O carteiro e o pai de Tash dão um pequeno sorriso e o carteiro diz, “Todos nós temos que fazer uma jogada, então você não precisará dessa bandeira, querida”. Tash presta atenção, girando a sua bandeira/varinha, olha para o carteiro e diz, “Esta bandeira protege mamães e não papais, das fadas alien”.
E naquele momento, estava claro como cristal que Tash foi a única que obviamente tinha “feito uma jogada”.

(Song canvas, Piece by Piece)

The Beekeeper

Minha mãe esteve muito doente este ano. Tive de entender que não estava pronta para, naquela época, deixá-la ir. Então, o que se pode fazer? Bem, você pode ir ao encontro da Apicultora, não é? Então, na canção The Beekeeper eu viajo para encontrar a Mestra Apicultora, uma espécie de shaman trabalhando para manter tudo em união dentro do jardim, garantindo que tudo será polinizado, que haverá vida, e que se houver alguma enfermidade, ela será sanada com prontidão. Não tinha certeza se minha mãe sobreviveria, mas a Mestra Apicultora explicou que, sem dúvida, ela esperará. Você não acredita em infinidade, na forma da infinidade? Este é o ofício das abelhas. É isto que é feito pelas operárias. Esta é a dança delas. Você não crê no mistério da Madalena, na linhagem de Deméter? A eternidade dos ciclos, da Mãe e Filha. Pois não importa aonde ela acordar, ela ainda será sua mãe... Mesmo que não nesse plano, ela ainda será sua mãe. (The Beekeeper Limited Edition Bonus DVD).

Toast

Logo, tive de lidar com a condição cardíaca de minha mãe, pois ela sobreviveu a um ataque em Setembro. Por causa disto, comecei a pensar sobre o ciclo da vida e lembrei que a morte em si faz parte desse ciclo. Mesmo entendendo isso, em lógica, emocionalmente não podia aceitar a perda dela. A canção tornou-se mais clara com o passar dos dias, e comecei a entender a Apicultora que havia levado minha personagem na canção até a Morte, para que eu pedisse pela vida de minha mãe, a Abelha Rainha, nesta música. Pouco eu sabia, porém, que apesar da morte ter passado bem perto de minha mãe e ela ter sobrevivido, aquela seria a última vez que veria meu irmão, quando voltei para ficar ao lado dela, em sua cama. Então, a vida/morte tem seu próprio ritmo e rima. (MSN Online Chat, Feb 22, 2005).

Por Hernando Neto e Netto Epfel (Ribbons Undone).

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